27 de jul. de 2009

Do parto poético (ou da metalinguagem)



Meu processo de criação quase nada tem de homogêneo - nada mais natural, haja vista a heterogeneidade da minha alma!
Digamos que ele tem características esquizos e instáveis.
Na ausência de normas rígidas, relato algumas pequenas constantes:

#Minha criatividade é sempre maior em momentos de angústia. Sei que isso vale para muita gente, e vejo como uma grande dádiva o fato de termos a escrita para lidarmos com esse estado demasiado humano (talvez o "mais" humano...).
Também escrevo em momentos bons, é claro. Mas a finalidade (ou causalidade?) acaba sendo outra: no primeiro caso, catarse e elaboração; no segundo, partilha e coroação.

#Dos instrumentos:
Papel e caneta: sempre!
Somente depois disso meus poemas ganham outras formas de existência.
(Engraçado que, vezes raras, quando escrevo no computador ou celular, enquanto não passo para o papel, o poema me parece impessoal e alheio. Vai entender... (tenho explicações, claro, mas isso fugiria ao tema principal desse texto.))

#Das situações:
A maioria deles nasce naquele solitário e, tantas vezes!, atormentado momento em que, cabeça no travesseiro, os pensamentos revisitam preocupações, anseios adiados, contas por vencer, compromissos para não serem esquecidos, dores acumuladas, alegrias memoráveis e sabe-se-lá quantos devaneios aí nos visitam...
Minha poética costuma funcionar nesses instantes que antecedem o descanso do sono e o alívio (ou não! rs) dos sonhos, talvez como conclusão de um dia produtivo, talvez como oração para anseios ainda não realizados.

(Interessante o que me ocorre agora: como penso nos poemas como oração... "Oro" com eles, neles, e para eles. Mas eles encerram em si mesmos a própria mística, sem pretensões transcedentais... (ah, minha fase inquieta, herege e materialista... tema para outro texto. Rs)

(Estou me estendendo e não gosto de textos longos para o blog... Hunf!)

Mas quantas vezes também eles não nascem no meio da rua, a caminho do trabalho, no trabalho, no carro à espera de um sinal verde, no meio de uma aula de filosofia grega, depois de uma conversa que tenha dilacerado (oh, exagero!) meu coração?!
Rebeldes, eles não escolhem lugar para serem paridos.

Era isso.
Não quero mais escrever... rs.
Agradeço a paciência de quem percorreu os olhos até aqui.


PS:
1) Partilho questões e impressões muito pessoais. Não quero que soem como arrogantes expressões como "meu processo de criação", "meus poemas", "minha poética". Apenas falo de mim, sem maiores pretensões, tendo a partilha como principal intenção. :)
2) Escrevi esse texto seguindo sugestão da Kenia, do Poesia Torta.

30 comentários:

Kenia Santos disse...

Tudo na sua mão vira poesia. Adorei conhecer o seu processo e o seu diário de escrita! Sua letra é tão bonita!!! Mulheres geralmente tem letras bonitas, né!?

Vou descobrir com esse exercício de descrever o 'parto poético', como vc mesma disse, se é comum aos meus amigos que escrevam à noite, que usem papel e caneta e escrevam bem quando atormentados por alguma angústia. Eu funciono melhor nessas condições também.

Obrigada por compartilhar, Talita! Adorei ler e ver tudo!

Beijo sempre carinhoso!

Unknown disse...

Comigo, as coisas também surgem assim. ás vezes sem motivo para que as letras saiam dos meus pensamentos. Mas nos momentos da angústia eu venho correndo escrever, eu desabafo e me sinto entendida. vai entender! ihoahioahioahio :p
beijo flor!=*

Adriana Godoy disse...

Lindas e sinceras impressões, Talita. Acho que isso acontece mesmo. Beijo.

Renata de Aragão Lopes disse...

Gostei de tudo que disse!
E compartilho
dos rascunhos
somente a papel e caneta.
Quando muito,
no sufoco de uma inspiração,
uma nota de celular! (risos)

Beijo, querida!

Ricardo Maciel disse...

Muito bom!
Não lembro de já ter ouvido alguém descrever como criam suas poesias.
Comigo é algo tão repentino e introspectivo que sai como um suspiro. Nunca parei para pensar nesse processo.

Adorei esse post porque ao lê-lo faz-me sentir mais perto da amigável poeta, ou seja você. Esse texto fornece informações para que imaginemos você passando por cada uma dessas etapas para compor uma obra.

Acredito que cada pessoa tenha motivos, inspirações e muitas outra variáveis que modificam o processo criativo de cada um, mas é interessante como, provavelmente, todos que fazem esse tipo de texto se identificam com algumas coisas que você escreveu.

Parabéns pelo post.

Hercília Fernandes disse...

Talita,

gostei de ler as suas impressões pessoais sobre o ato criativo. Além disso, visitei alguns poemas e apreciei bastante a sua poética.

Gostei de tudo o que vi, li e senti. Parabéns por sua poesia e beleza do espaço.

Beijos,
H.F.

Nathália E. disse...

Sou um pouco conservadora nesse quesito. Acho que a criação de um texto tem que ser com papel e caneta.
Hahaha, se não for assim, não sai a mesma coisa.

Beijo!

vieira calado disse...

Partilhar questões e impressões pessoais.

Eis o que eu também faço!

Gostei de ouvir o que disse.

Beijinhoosss

nina rizzi disse...

caneta e papel. em qualquer momento e quaquer lugar, por quaquer motivo.

beijo :)

Márcia(clarinha) disse...

belíssimo ensaio poético....poesia vida, concreta.

em mim papel e lápis vira rascunho borrado, toma forma no computador, mais arrumado...vai entender, rsss

lindo dia flor
beijos

entremares disse...

Como surgem as ideias ?

Às vezes nem são bem ideias, pois não? São mais assim como divagações, como deixar o espírito "passear" ao sabor da corrente, mergulhado na angústia ou embalados de felicidade...

Tudo serve de inspiração. Aquilo que acontece, aquilo que já aconteceu, aquilo que ainda nem aconteceu...

Sabe como dizia o Fernando Pessoa?

" O poeta consegue ter saudades do futuro"

E tem razão, você não acha?

Beijos
Rolando

Talita Prates disse...

Kenia: agradeço a sugestão prévia, que desencadeou a escritura desse texto! Sempre grata por sua gentil visita.

Juliana: sei como é desabafar com o papel! rs. E o mais "estranho": também me sinto "entendida"!!! rs

Adriana, "sambista": que bom que gostou! Vindo de vc, é honra!

Re, poetisa, é assim mesmo: no sufoco, uma nota no celular! E o trampo que dá pros dedos acompanharem a inspiração! rs

Ricardo, que bom que se sentiu mais "perto": acho que a intenção do blog é essa mesmo: me fazer mais próxima dos meus semelhantes, compartilhando semelhanças!

Hercília, uma honra sua primeira visita! Espero que volte sempre que puder/quiser! O seu blog é uma delícia e primor!

Nathy: cara, sou sua fã... Vai escrever assim lá na táquepariu... rs. Teu futuro é promissor!

Vieira, obrigadíssima pelo comentário além-mar! Salve Camões e Pessoa! rs

Nina: fez poesia! Que lindoooo!

Márcia: no computador o texto vai sendo "lapidado", né? Verdade, tb faço isso... Obrigada pela visita! (amo seu blog!)

Entremares: Pessoa FALOU e DISSE. Quem sou eu pra discordar do Poeta Maior?! Ele era "o cara"... rs. Obrigada!

Kenia Santos disse...

Talita, voltei só pra dizer que tem um selinho pra vc no Diários de Filosofia, caso queira. Beijoca!

Daniel disse...

Muito legal o seu blog. Não pude não comentar.
Beijos

Lara Amaral disse...

Gostei muito da sua exposição aqui, é bom de ver o lado humano do poeta além dos poemas. Nem me fale daqueles que vêm na hora de dormir, esses, para mim aparecem em demasia.

Abraço!

Marcia Barbieri disse...

Muito obrigada pela visita e foi muito bom conhecê-la e conhecer seu processo de criação. FAlar disso é cutucar o íntimo,é preciso coragem...Parabéns!!!!voltarei com certeza!!!

beijos

jediroma disse...

teu blog assusta com tanta beleza

renata carneiro disse...

essas particularidades partilhadas, mas com toque tão pessoal.

acho lindo!

bjos!!!

EE Galdino de Castro disse...

Talita sempre nos brindou com suas palavras certeiras em sua escrita poética. Agora, metalinguisticamente, celebra a prosa com a mesma beleza das palavras. Sempre muito bom de se ler.
Talits, continue na prosa, mescle com seus versos... Afinal, não haverá cura para a doença da escrita, da bela escrita.

Hanna vonlux disse...

#Minha criatividade é sempre maior em momentos de angústia.

na verdade achoq eu ainda tenho muito a crescer linguisticamente falando, rs,
adorei o que li aqui,

A.S. disse...

Talita...

Excelente texto!!!
O meu aplauso....!


Beijos...

O Profeta disse...

O ultimo sentimento
Perdeu-se no outro lado do espelho
Onde dormem as estrelas?
Talvez sobre a cabeça de um pobre velho

E a Lua de sorriso trocista
Soltou raios de deslumbrante luar
Um amante tece um manto de ternura
Inunda o espaço uma melodia de embalar


Boa semana



Doce beijo

Talita Prates disse...

Kenia, agradeço mais uma vez pela lembrança e pelo carinho! Valeu mesmo.

Daniel: fico muito contente quando tem um comentário partilhando impressões! Fique à vontade para fazê-lo sempre que puder! Muito obrigada.

Lara, pra vc tb? Gostaria de saber um pouco mais! (se puder/quiser falar sobre, claro... rs)

Márcia, obrigada pela primeira visita! Volte sempre! Muito obrigada...

Jéssica, obrigada pelo comentário "curto" e "forte". O que seria de nossa vida sem o Belo? Ele transforma a existencia em uma jornada mais emocionante!

Renata, falar em toque pessoal... Acho teu blog "tão seu"... o jeito dos versos, das imagens... é inconfundível. Obrigada pelo carinho!

Cidinhaaaaa, quanto devo a você esse gosto pelas palavras, hein? Existem Palavras para agradecer? Agradecer o fato de vc ter me apresentado Clarice, Lygia, Pessoa, Saramago... Olha isso! Isso é impagável! rs. OBRIGADA POR TUDO. Sou sua fã.

Hanna, acho que a gente tem sempre o que crescer... Basta seguir... Obrigada pela visita.

Albino, a gente sempre gosta de aplausos, né... Oh, vaidade das vaidades! rsrsrsrs. Grata. :)

Profeta, sempre visita com versos... obrigada.

iILÓGICO disse...

relaxa litinha...

beijo-te, Paz!

Fabio Rocha disse...

Muito legal. Comigo, sai muito mais no blog que no papel... Beijos

Talita Prates disse...

"To" relaxada, 'Cos!
Bom te ver aqui. :)

Valeu pela visita, Fabio! Volte mais! :)

Kiara Guedes disse...

não se desculpe, não há q ter culpa, não cabe na poesia! Bjin

Anônimo disse...

Ao ler o seu texto, me vi nele a maior parte do tempo; Guardadas as devidas proporções, pareceu o relato de alguém bem parecida comigo, fiquei impressionada. Sua página está linda e também me senti muitíssimo bem por aqui, parabéns!
Beijos da sua mais nova seguidora!


Ariadna Garibaldi

Mª João C.Martins disse...

Talita

... e escreveste muito bem!

Partilho da reflexão sobre a escrita... temos "rituais" comuns!

Um beijinho e obrigada pela tua visita, sempre!

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

como podem duas pessoas (e, com certeza, muitas mais) passarem/sentirem/fazerem a mesma coisa em 'processos criativos'???

me-do!
rsrs

beijooo
(L)

 
;