30 de jan. de 2012 14 Declarações de outras almas

Do poema lúdico e sem rima


tem uma janela no meu pôr-do-sol,
um peito na minha saudade,
um corpo no meu amor,
uma boca no meu céu,
um talvez no meu nunca,
uma voz no meu silêncio,
um sol na minha clave.


tem uma falta na minha esperança,
uma paixão no meu ódio,
um pensar no meu excesso,
um sentir no meu drama,
um absurdo no meu sentido,
um sentido no meu sintoma,
um desejo no meu recalque.


tem um cotovelo na minha dor,
um canto de boca no meu sorriso,
uma fé na minha descrença,
um caminho na minha pedra,
um até breve no meu adeus,
uma garganta no meu nó,
um verso no meu clichê.


tem de tudo no meu poema
- que não tem uma rima sequer.


t. prates
18 de jan. de 2012 15 Declarações de outras almas

Da canção recantada

Segue minha versão alternativa para Eu te amo, do Chico e do Tom.
Quem quiser cantarolar junto, aproveite o vídeo abaixo, com um instrumental lindo, no violão, da canção.



Eu não te amo 


ah, já é tão tarde pra dizer que é cedo 
e o que está dentro ainda causa medo; 
te peço agora que me deixes ir. 

 ah, se ao me conhecer 
perdeste os sonhos e teus devaneios, 
se aos meus rios teu barco é alheio 
te digo que é hora de seguir. 

se'os nós do teu passado ainda são presentes 
se eles te fazem, de nós, tão ausente, 
estrada não há melhor que a de partir. 

se meu coração não foi pra ti um céu, 
se, teu destino, tu crês num papel 
a minha sorte é poder esquecer. 

quando eu ponho ordem nas minhas gavetas 
tuas cartas risco com minhas canetas 
para impedir tuas letras de viver. 

quando o nosso amor eu supus tão divino 
teus atos me alertaram o desatino, 
mas já'era tarde pra tentar fugir. 

sim, tanto me salva me fingir de tonta 
negar o amor pra te fazer afronta, 
agora conta: como hei de mentir? 


(PS: que Tom e Chico me perdoem a heresia desse re-canto.) 
(PS 2: paródia escrita especialmente para participação no blog Confraria dos Trouxas, que propôs a escrita de um texto a partir da canção dos mestres.) 


t. prates
14 de jan. de 2012 16 Declarações de outras almas

Da ode solar



desse denso pano negro 
de estrelas penduradas 
nascer uma luz antes inconcebível 
a pintar o céu de azul 
é um milagre 
, apenas um milagre 
ao qual nos acostumamos. 


e o milagre declina 
durante as horas 
para se fazer promessa 
aos que adormecem 
e (re)nascimento 
aos que despertam. 


 t. prates 

 ... ... ... 

 o bonito da vida é esse amanhecer teimoso, 
que insiste em ter fé em nós 
- ainda que nem sempre essa fé seja recíproca.


Imagem: Onanus
13 de jan. de 2012 9 Declarações de outras almas

Da sol-idão e lua



[haicai diurno]

sob o sol do meio-dia
solidão é quente e farta 
nem sombra faz companhia. 



[haicai noturno]

meia-noite sob o céu
solidão é clara e mansa
pinto a lua no papel.



t. prates
11 de jan. de 2012 13 Declarações de outras almas

Do poema platônico

eu e ele brincamos 
de poesia 
porque não podemos 
brincar 
de amor. 
(amor exige corpo. 
poesia é menos exigente 
e se contenta só 
com alma.)

t. prates 

Imagem original daqui, editada por mim.
4 Declarações de outras almas

Da canção contra o fim do mundo

Imagem daqui.

quando meus ombros
não suportam o peso do mundo,
eu canto.
(: é um canto tanto de palavra.)

 
escrever/dizer/cantar o mundo
é uma forma de sustentá-lo, vivo,
de poupá-lo do fim,

de redimir-se da dor,
de salvar-se do caos.
 

salvemo-lo-nos.

t. prates



3 de jan. de 2012 8 Declarações de outras almas

Do amor imaginável


ousa querer-me
para além do que
pensas que sou
- o que ficar poderá ser objeto de amor.
o resto terá sido imaginação
(o que é responsabilidade tua.)

t. prates
 
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