tem uma janela no meu pôr-do-sol, um peito na minha saudade, um corpo no meu amor, uma boca no meu céu, um talvez no meu nunca, uma voz no meu silêncio, um sol na minha clave.
tem uma falta na minha esperança, uma paixão no meu ódio, um pensar no meu excesso, um sentir no meu drama, um absurdo no meu sentido, um sentido no meu sintoma, um desejo no meu recalque.
tem um cotovelo na minha dor, um canto de boca no meu sorriso, uma fé na minha descrença, um caminho na minha pedra, um até breve no meu adeus, uma garganta no meu nó, um verso no meu clichê.
tem de tudo no meu poema - que não tem uma rima sequer.
Segue minha versão alternativa para Eu te amo, do Chico e do Tom. Quem quiser cantarolar junto, aproveite o vídeo abaixo, com um instrumental lindo, no violão, da canção.
Eu não te amo
ah, já é tão tarde pra dizer que é cedo
e o que está dentro ainda causa medo;
te peço agora que me deixes ir.
ah, se ao me conhecer
perdeste os sonhos e teus devaneios,
se aos meus rios teu barco é alheio
te digo que é hora de seguir.
se'os nós do teu passado ainda são presentes
se eles te fazem, de nós, tão ausente,
estrada não há melhor que a de partir.
se meu coração não foi pra ti um céu,
se, teu destino, tu crês num papel
a minha sorte é poder esquecer.
quando eu ponho ordem nas minhas gavetas
tuas cartas risco com minhas canetas
para impedir tuas letras de viver.
quando o nosso amor eu supus tão divino
teus atos me alertaram o desatino,
mas já'era tarde pra tentar fugir.
sim, tanto me salva me fingir de tonta
negar o amor pra te fazer afronta,
agora conta: como hei de mentir?
(PS: que Tom e Chico me perdoem a heresia desse re-canto.) (PS 2: paródia escrita especialmente para participação no blog Confraria dos Trouxas, que propôs a escrita de um texto a partir da canção dos mestres.)
desse denso pano negro de estrelas penduradas nascer uma luz antes inconcebível a pintar o céu de azul é um milagre , apenas um milagre ao qual nos acostumamos.
e o milagre declina durante as horas para se fazer promessa aos que adormecem e (re)nascimento aos que despertam.
quando meus ombros não suportam o peso do mundo, eu canto. (: é um canto tanto de palavra.) escrever/dizer/cantar o mundo é uma forma de sustentá-lo, vivo, de poupá-lo do fim, de redimir-se da dor, de salvar-se do caos. salvemo-lo-nos.