você disse que
abre aspas
és o meu poema
não escrito, porque vivente,
de rimas imperfeitas, porque humana,
pulsante, porque de ossos, carne e sangue,
fecha aspas,
e eu quero te dizer que
(
ainda que ser o teu poema
fizesse com que eu existisse
com uma precisão invejável
)
eu quero apenas te ser
a tua mulher,
o feminino de um masculino,
um corpo no seu corpo,
a fazer versos inscritos
no corpo (porque em qualquer outro lugar me parece tão insustentável);
eu que, de tanta alma,
me esqueço da matéria viva de que sou feita;
eu que, de tanta alma,
troco a sublime ação por sua mera contemplação, o que tira o atributo de vida vivida, restando apenas a vida pensada,
(e isso que era pra ser um poema metalinguístico toma forma de um desabafo metafísico (definitivamente não sei ser só corpo) e prosaico (tão digno tanto um poema, por que não) e (me deixa abusar da pontuação para cercear o que quer explodir justamente para não ser domado, para não poder-ser-dito, me deixa?) eu me perco. e eu te peço que me ajudes a me achar.
(se não encontrada, de que outra forma serei tua? de que outra forma poderei sequer ser minha?).
você disse que
eu sou o teu poema,
mas eu sequer sei me ser.