28 de out. de 2009 39 Declarações de outras almas

Das reincidências

Ela temia a repetição: a repetição de esperanças malogradas, a repetição de histórias interrompidas, a repetição da dor familiar, a repetição dos adjetivos pessimistas nos mesmos substantivos.
"Amar é romper", deduzia.
Porque ela é daquelas que repete para si: que há saída. Por isso o medo: medo de que mesmo essa repetição faça parte do círculo vicioso de reincidências absurdas. Medo de se repetir e não provar a mudança.
Ela ainda tem muito o que aprender.
t. prates

"Continuação" (pois que aprender é pra sempre) da postagem Das passagens.

"A própria luta para atingir os píncaros
basta para encher um coração (...).
É preciso imaginar Sísifo feliz."
(A. Camus)
22 de out. de 2009 35 Declarações de outras almas

Da noite da alma


Escuta, minh'alma:
sob o véu enegrecido desse silêncio,
sob o breu resplandecente desse céu
a dor - alarmada pela luz
grita! com brados clamantes:
- sou tua!

Agarra-a, não a negues:
não é mentira o que ela diz.
Assume-a como condição
da tua condição.

Apesar dela
e por ela
é que tu és.

E se ela te cobre
e te traz noite,
é para o teu sol de dentro
nascer majestoso na aurora.
t. prates


"E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
que me saiba perder... pra me encontrar..."
Imagem daqui.
16 de out. de 2009 43 Declarações de outras almas

Do silêncio fecundo



Há silêncios que são fecundos,
porque dizem do indizível.
Destarte,
posso falhar como poeta
(porque desse se espera sempre a expressão),
mas ganhar como pessoa que é
(e que busca o melhor do ser).
Pois que existir, sendo,
é das tarefas mais laboriosas.
Assim, calo-me:
não por falta de inspiração,
mas para fazer gritar o silêncio.
t. prates


Imagem daqui.
12 de out. de 2009 45 Declarações de outras almas

Da órbita

t. prates

* Clique para ampliar (e ver o "movimento").
** Poemeto modificado e republicado.
7 de out. de 2009 37 Declarações de outras almas

Da escala(da)

DO caos e ruídos dentro em mim
REssoa a esperança de harmonia:
MIsterioso alento que acena e
FAz-me experienciar a beleza que,
SOLta em várias partes, tal peças
LÁbeis à procura de unidade,
SIlencia a desordem e traz verdade.
t. prates


A experiência da música é uma das mais importantes e viscerais na minha vida.
Convido-os a fazê-la comigo, ouvindo Cantique de Jean Racine, de Gabriel Fauré, que cumpre muito bem para mim esse papel.
(Uma dica, se me permitem: ouvir com o som bem alto, de olhos abertos apenas para dentro). Link para a música, aqui.
4 de out. de 2009 31 Declarações de outras almas

Da feliz.idade




Há 27 anos
uma essência
existe em mim.

ou (?)

Há 27 anos
uma essência
crio em mim.











De todas as guerras,
a mais urgente é vencer a si mesmo,
construir a própria existência,
fazer a passagem
da dor incurável (angústia) à sábia aceitação,
da revolta violenta ao gentil convívio (inclusive e principalmente consigo mesmo),
do desespero infeliz a uma esperança plausível,
de uma transcendência irresponsável à fé (mínima) na própria capacidade de criação e redenção,
da existência alienada à liberdade responsável,
das pequenas respostas às grandes perguntas.
t. prates



"Lóri: uma das coisas que aprendi
é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer.
Apesar de, se deve amar.
Apesar de, se deve morrer.
Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de
que nos empurra para a frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia
que, insatisfeita,
foi a criadora de minha própria vida".

"Mas existe um grande,
o maior obstáculo para eu ir adiante:
eu mesma.
Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho.
É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma.
(...) Sou um monte intransponível no meu próprio caminho.
Mas às vezes por uma palavra tua
ou por uma palavra lida,
de repente tudo se esclarece."

(Clarice Lispector,
'Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres')

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.
(Drummond)
 
;