t. prates
Da relação com a coisa
t. prates

Não queria ser dessas pessoas que decidem o que querem encontrar antes mesmo de sair à procura.
"Felicidade é desfocar", deduzia.
E isso nada tinha a ver com a questão toda e depreciada e combatida de falta de metas e objetivos e sonhos.
É que assim os achados se tornam sempre surpreendentes, à revelia da dor ou prazer que possam causar.
t. prates
do fruto da vida

ao costume quase ritual
do esforço mínimo
de apenas
orar-a-ação,
prescindindo da vida
face à esperança
da promessa
do porvir?
a deus dará
o paterno fortúnio
de já gozar a vida
- e vida em abundância
no reino
que já é desse mundo,
pois que, onipotente,
também é dele
o reino das terras?
ao deus-dará,
caminha sobre prados
ora verdejantes, ora secos;
serve-se das águas
ora tranquilas, ora revoltas.
tem o maior presente
dentro de si:
o sopro de vida
- e o fado da liberdade.
oxalá ouvísseis a voz do deus:
e porque estreita é a porta,
e apertado o caminho que leva à vida,
e poucos há que a encontrem*.t. prates
*Mt 7,14
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"Escuta. Eu estava habituada somente a transcender. Esperança para mim era adiamento. (...) Eu tinha tão pouca fé que havia inventado apenas o futuro, eu acreditava tão pouco no que existe que adiava a atualidade para uma promessa e para um futuro. (...)
Sei que é perigoso falar na falta de esperança, mas ouve - está havendo em mim uma alquimia profunda, e foi no fogo do inferno que ela se forjou. (...) Mas ouve um instante: não estou falando do futuro, estou falando de uma atualidade permanente. E isto quer dizer que a esperança não existe porque ela não é mais um futuro adiado, é hoje. Porque o Deus não promete. Ele é muito maior que isso: Ele é, e nunca para de ser. (...)
Sei que o que estou sentindo é grave e pode me destruir. Porque - porque é como se eu estivesse me dando a notícia de que o reino dos céus já é. (...)
Pois prescindir da esperança significa que eu tenho que passar a viver, e não apenas a me prometer a vida. E este é o maior susto que eu posso ter. Antes eu esperava. Mas o Deus é hoje: seu reino já começou."
(Clarice Lispector, A paixão segundo G.H.)
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