7 de abr. de 2012

Da sublimação

Troche

você disse que
abre aspas
és o meu poema
não escrito, porque vivente,
de rimas imperfeitas, porque humana,
pulsante, porque de ossos, carne e sangue,
fecha aspas,
e eu quero te dizer que
(
ainda que ser o teu poema
fizesse com que eu existisse
com uma precisão invejável
)
eu quero apenas te ser
a tua mulher,
o feminino de um masculino,
um corpo no seu corpo,
a fazer versos inscritos
no corpo (porque em qualquer outro lugar me parece tão insustentável);
eu que, de tanta alma,
me esqueço da matéria viva de que sou feita;
eu que, de tanta alma,
troco a sublime ação por sua mera contemplação, o que tira o atributo de vida vivida, restando apenas a vida pensada,
(e isso que era pra ser um poema metalinguístico toma forma de um desabafo metafísico (definitivamente não sei ser só corpo) e prosaico (tão digno tanto um poema, por que não) e (me deixa abusar da pontuação para cercear o que quer explodir justamente para não ser domado, para não poder-ser-dito, me deixa?) eu me perco. e eu te peço que me ajudes a me achar. 
(se não encontrada, de que outra forma serei tua? de que outra forma poderei sequer ser minha?).
você disse que
eu sou o teu poema,
mas eu sequer sei me ser.



15 comentários:

Will Carvalho disse...

Primeiro, não sei com que propriedade digo isso(acho que com mais sensibilidade que propriedade): seus textos estão cada vez mais maduros. Gosto de vir aqui com tempo, pra que eu possa me deixar transformar por um momento,o memento em que "te leio". Essa mulher que fala é apaixonante... na busca de se encontrar, na falta do medo de dizer-se entregue. "Descubra quem você é seja de proposito".

Coisa linda isso tudo.

Dario B. disse...

Não, não é um desabafo. É a verbalização de toda ebulição que vai por dentro e forma essa alma que se expõe. Lindo e rico. Um beijo.

Nanda Melo disse...

............

Talita Prates disse...

Acho os teus comentários sempre um tanto quanto desagradáveis, Marcos.

Fabrício César Franco disse...

Poetisa,

Decifrar-se no outro, tarefa hercúlea, a esfinge faminta logo ali a questionar-nos. Você, guardiã das palavras da alma, cada vez mais material, física. Acompanho essa corporificação com deleite, a alquimia mais que perfeita. Que o belo de dentro avance e tome (mais) conta do que é bonito por fora. E que haja, sempre, sempre, textos tão belos como esse (essa, a nossa grande certeza).

Beijo, com carinho!

Adriana Godoy disse...

Nossa, menina! Belíssimo, arrasador. Beijos

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

PUTAQUEPARIU!!!!!!!!!!!!!!
O QUE É ESTE POEMA????

só saiba uma coisa: se rolar o lançamento do meu livro [como to imaginando], este poema vai ser recitado em abertura!
sem mais.

muito orgulho de te ter como amiga [inspiradora]!

amo.
beijo.
pulo!

Bruno de Andrade Rodrigues disse...

Quero parabenizá-la por esta composição poeticamente sublime ou sublimada. Certamente, eu teria muito a dizer sobre o eco freudiano que se faz sentir na leitura minuciosa. Mas o espaço é pouco. Fica, pois, minha admiração com o seu talento.

Beijos carinhosos!

ps. Este poema devia ser tatuado num corpo que tem excesso de alma!

Anônimo disse...

Não fui eu quem leu seu poema, foi a minha alma - que sentiu cada olhar no meio dessas palavras bonitas. Lindo. :)

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Talita
Eu também quero ser o feminino do teu masculino... Lindo demais!!
Passo pra saber de vc e tomara que esteja muito bem!!!
Também felicito-a pela Pascoela no dia de hoje...
Bjm de paz e pascal

Poeta da Colina disse...

Sensacional.

Sonhos são lindos, mas como faz falta ser realidade.

Ayanne Sobral disse...

Lindo, inteiro, maravilhoso.


Seria capaz de ler mil vezes. E em cada uma delas seria um amar diferente. O coração bateria em compassos diferentes. Mas o olhar que parece escrever a história da minha alma, esse seria sempre da mesma doçura.

Os teus versos têm movimentos, Talita, porque você é, sim, a própria poesia.

Breve Leonardo disse...

[são mais que tantos,

são mares interiores.]

um imenso abraço, Talita

Leonardo B.

shirnaria lima disse...

Creio que quando de gosta de alguem devemos ter plena conciencia de tudo que esta em nossa volta , e a entrega é algo natural de qualquer relação, o poema em si já é uma declaração de entrega embora que em pequenos trechos o ser amado não perceba que é amado

Camila Passatuto disse...

A construção material (palavras e pontuação) ficou magnifica!
O poema na alma... ficou.


Abraços.

 
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