: porque eu preciso olhar no espelho e acreditar no que vejo. e ver o que ainda não sou para continuar aspirando a ser. se a imagem no espelho vira retrato, nada mais há o que esperar: o inferno é estático, gelidamente dantesco. só no céu, que é a possibilidade da mudança, há movimento. porque eu também sou aquilo que não sou. ser apenas o que sou é muito pouco. é sobrevivência. é aquém do além que ser exige.
vê: eu estou sendo. o gerúndio é a forma verbal da existência por excelência. eu minto a verdade do que sou apenas para experimentar novas formas de estar. é um fingir autêntico. finjo o que não sou para experimentar se, por ventura, posso ser. e a essa soma de estares, feita de tantas subtrações multiplicações e divisões, eu chamo existência. artesãos costumam chamar de mosaicos.
t. prates
Imagem daqui, modificada por mim.
9 comentários:
Tá, que medo de vc.
Parece que li um trecho de "A descoberta do mundo" da Clarice.
Me apaixonei perdidamente por cada letra.
Isso tá inscrito na minha alma "porque eu também sou aquilo que não sou. ser apenas o que sou é muito pouco. é sobrevivência. é aquém do além que ser exige."
E não há nada que não podemos encontrar nesse espelho.
Filosofa "cantiana", que belo poema. Senti´me na era de Spinoza;
Facetou o espelho.
Parabéns, querida amiga!
Beijos
Mirze
Lindo, Tatá!
Que esse mosaico
seja feito e refeito
a cada nova olhadela no espelho!
Um beijo,
Doce de Lira
mosaico, rascunho, esboço...
estamos sempre em construção.
[devemos]
beijo, flor
"essa soma de estares, feita de tantas subtrações multiplicações e divisões, eu chamo existência"
Não dá nem pra comentar um texto tão incrível desses.
E se os artesão chamam de mosaico, eu chamo de poesia, que é exatamente o que você faz.
Um beijo.
Cansei de me olhar no espelho e refletir, agora procuro ver além e ser. Mesmo não sendo o que espero. Esperança que não morre nunca.
besos, parzim eterno
@paraquenomes
Li um texto hoje que falava sobre metades. Da vontade de ser metade e não inteira, para fingir a não entrega, o não sentir. Para tentar não ser intensa.
Como se a metade do que eu sinto já não fosse suficientemente intensa. Eu pinto meus olhos de preto, me escondo atrás de máscaras transparentes, tampo espelhos... tenho uma falsa impressão de proteção e, assim, me mostro sem perceber.
MM
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