2 de out. de 2011

Da crônica definitiva do primeiro-grande-último amor


Ouço o Notturno nº 2 de Chopin enquanto escrevo. Vem dele (que já foi meu-e-teu n'uma manhã, ao piano) a calma necessária para que eu pense os sentires e memórias e os coloque em palavra.
Das coisas que ainda restam a dizer, as repito por teimosia (tudo já foi dito e, ao mesmo tempo, nada. Tudo é muito pouco quando se trata de amor) - talvez para que a repetição me convença, em algum momento, que andar em círculos não faz com que a estrada curva se torne uma reta (acreditar no contrário é profissão de burrice, não de fé).
Das saudades que ainda transbordam a consciência que-procura-esquecer, as sinto como marca férrea e demarcante de algo que se prometeu intenso e inteiro - e foi, na medida atemporal do sentimento vivido. Só se tem saudade do que traz o sinal anímico e corporal do amor.
Das certezas que procuro para me convencer de que tudo que me era possível foi feito, acalenta-me aquela que me relembra que o afeto que eu te dediquei conteve em si toda a integridade, inteireza e inocência características d'um primeiro amor. Amei-te com toda a ingenuidade pueril que acredita que aquilo é pra sempre, sem-saber-que-o-pra-sempre-sempre-acaba.
Das aprendizagens que ficaram - pela dor -, aprendi que o amor não é única condição para se poder amar: tão imprescindível quanto, é dose imensa de ousadia e coragem, que devem ser tomadas dia após dia.
Das atitudes que tomei no depois, todas foram motivadas por uma espécie de instinto de autopreservação - minha bondade e meu amor pelo outro devem ter um limite: o de não ser cruel comigo mesma.

O meu amor eu conjugo no passado porque ele foi, de forma ativa, combatido. Não morreu morrido, mas matado. Era o que me restava, como efeito das tuas escolhas.
O ato heróico do meu amor foi, ainda que contrariado, respeitar a liberdade do teu escolher - essa foi a maior prova que ele, de si mesmo, pôde lhe dar.

Das expectativas que trago em relação ao porvir - que tudo se transforme, pelo tempo, em alicerce de vida, em palavra bem-dita, em memória indolor, em história da minh'alma.


t. prates

9 comentários:

Maya Quaresma disse...

Que texto mais sublime

Amor não morrido, mas matado. Mataram-o!
Adorei!!
Beijos

Carina Destempero disse...

Li, curti, chorei... O amor é mesmo para heróis, disso não tenho dúvida.

Ao final do texto pensei: e que se transforme em história e em rima.

E se for "dramar" assim lindamente pode continuar - mas só na escrita, viu?

Beijos!

Ana SSK disse...

Tá, coisa mais linda.

Li sem ler.

E essas coisas que a gente faz sem-querer são as mais corajosas.

Pensar sem pensamento, amar sem amor, desamar sem ter amado inteiramente.

Porque tudo nessa vida é insuficiente pra gente, que acha que a eternidade é pouca coisa.

Te incluí no meu pacote aqui. "A gente", eu disse sem-querer.

Aí, o sem-querer é das coisas mais bonitas.

Aliás, cê deve ter escrito isso sem-querer. Só pode...

Rafaela Figueiredo disse...

"aprendi que o amor não é única condição para se poder amar".

PQP!!!

sem mais.

Rafaela Figueiredo disse...

[e o filme q eu te falei... taqui!]

Marcela disse...

Senti na alma a dor do fim. Poderosa suas palavras...com o poder que só elas possuem qdo escritas através da alma de alguém
parabéns!

Poeta da Colina disse...

Tudo mudará.

Unknown disse...

Como é difícil, quando o amor verdadeiro está de um só lado.

Espero que supere.

Eu não consegui.

Beijos, linda!

Mirze

Renata de Aragão Lopes disse...

Saudades daqui...

Palavra e som,
reflexões ao piano...

Chopin nos alcança a alma
em sua companhia! : )

Beijo,
Doce de Lira

 
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