22 de jun. de 2010

Da felicidade possível


Ela desejava a vida para além do quase.
Ruminava as lembranças agridoces das vivências que construíram seu caminho até o ponto em que havia chegado. Sabia serem essas vivências que haviam delineado a essência do que ela era até ali. "O que eu sou para além da memória de mim?", se perguntava.
O que encontrava na gaveta da memória lhe dava a impressão de que antes (ou depois?) do êxtase (esse instante fugaz e ilusório em que se julga ter encontrado o pote de ouro) alguma coisa se rompia e lhe roubava a promessa da permanência de suas conquistas.
"Felicidade são pontos tremulantes de luz na noite escura", deduzia.
Porque ela tem aprendido que o mais importante passo da vida é o recomeço.
O esforço do recomeço para além da dor da queda. A possibilidade do recomeço para além do medo da dor.
E tem aprendido que ela também é o que pode vir a ser.

t. prates


Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente.
Não ousar é perder-se.

***

A vida só se compreende mediante um retorno ao passado,
mas só se vive para diante.
(S. Kierkegaard)

Imagem: Bella

29 comentários:

Kiara Guedes disse...

Quem se importa com o “feliz para sempre”?
Eu não!
Quero somente o “ser feliz”, e pode ser por enquanto que assim vou adiando a infelicidade.
Beijos

Kiara Guedes disse...

Quem se importa com o “feliz para sempre”?
Eu não!
Quero somente o “ser feliz”, e pode ser por enquanto que assim vou adiando a infelicidade.
Beijos

leonel disse...

esse texto até poderia ter sido escrito por mim, sabia? Tem muito do que penso, do que eu acho, do que eu preciso acreditar. Está aí, a felicidade de amostra grátis.

Luciane Slomka disse...

sempre lindo isso aqui que eu vejo... adoro!
beijao!

orvalho do ceu disse...

Oi, querida
Que bela postagem! Gostei do desenho ilustrativo... fico assim muitas vezes na vida... mas procuro terra firme logo... com solo fica bem melhor...
Um encantador e profundo post...
Bjs e tenha serenidade sempre

Mª João C.Martins disse...

É sim, o mais importante é o esforço do recomeço. O resto fluí como um rio...

Um beijinho

Úrsula Avner disse...

Oi Talita,

seus textos sempre reflexivos encantam pela esmero na escrita e beleza na exploração do tema... Você sumiu hein ? Há quanto tempo não te enconto lá no Sempre Poesia ? Quando for possível apareça OK ? Bj,

Úrsula

Moni Saraiva disse...

Lembrei da Lispector, que diz:

"Minha história é viver. E eu só sei viver as coisas quando já as vivi. Não sei viver, só sei lembrar-me."

"Porque ela tem aprendido que o mais importante passo da vida é o recomeço.
O esforço do recomeço para além da dor da queda. A possibilidade do recomeço para além do medo da dor."

Perfeito, isso, Tá. A gente sente em carne. Porque simplesmente jamais deixaremos de sentir o prazer do vôo por conta do risco do salto...

Sim, podemos sempre vir a ser...

Lindo, lindo, lindo...
Tua escrita é plural!
Amo!!!

Beijos!

disse...

Aprende-se que a felicidade é saber recomeçar a cada queda e nem por isso desistir da próxima.
É assim... vivendo que se é feliz.

Doce... como todas as tuas palavras.

Beijo doce em ti querida!

Unknown disse...

Talita!

Um texto que explode dentro da alma>
Altamente real e reflexivo!

Excelente!

Beijos

Mirze

Limax disse...

olá Talita
faz tempo que não venho por aqui... dei uma atualizada hj... seus escritos continuam em bela crescência... de quem vai, de quem não pára, de quem é e sabe quem é. Parabéns

Limaxxx

Mary Pereira disse...

"E tem aprendido que ela também é o que pode vir a ser."
(Re)começos ou novos começos.
Impossível não nos vermos em suas linhas.
Belíssimo.


Mary Pereira
www.fotografandopensamentos.blogspot.com

ítalo puccini disse...

desejar a vida para além do quase.

isso é maravilhoso!

Ana Marques disse...

E a felicidade é escolha.

E não conformar-se é escolha.

e ir além... é o teu horizonte que só a ti diz respeito.

Belo texto. Adorei.

Beijo!

Adriana Godoy disse...

Talita...muito inspirador. Bonito texto e faz refletir. beijo.

Tiago Moralles disse...

Somos sempre o que ainda não somos.

Anônimo disse...

cada vez que venho aqui saio surpresa...

Tão linda você, Tá...

beijo

[ rod ] ® disse...

Enquanto eu penso no mal eu olho adiante as minhas certezas e penso que o recomeço é só mais um grande ensaio ao aprendizado.

Renata de Aragão Lopes disse...

Tatá,

a impressão que tenho
é a de que escreve
diante do espelho...

Uma laboriosa tarefa
de observação
e deduções.

Ficam-nos
suas reticências implícitas.

É que, de repente,
você gira o espelho para nós...

Um grande talento, amiga!
Beijos doces de lira pra você!

P L disse...

Oi, Talita.

Que texto lindo!

Recomeçar é preciso e, mesmo que haja dor, essa condição de esperança cravada no fundo dos olhos faz toda a diferença num momento desses, né?

Lindo demais... parabéns.
Beijos

Patrícia Lara

Sylvia Araujo disse...

Maravilhosamente filosófico, poético e existencial.
Lindo texto, lindo blog, Talita.

Fiquei encantada com as tuas letras.

Uma beijoca

Patrícia Gonçalves disse...

Talita, lindo texto, profundo e questionador.

Parabéns, seu blog foi um achado!

Beijo!

Lou Vilela disse...

Adorei o texto! 'sinapses' proliferam. rsrs

Por coincidência, falo em meu último poema sobre o 'pedaço mastigado' e a atual (quiçá posterior) - sempre bem-vinda - sensação de estranheza.

Beijos,
Lou

Julio César Carvalho disse...

Somos produto de lembranças, vivencias, memórias... Todos misturados e remetidos a um constante recomeço! Ousar é possibilitar, é tornar-se!!

Maravilhoso texto!!
Bem fenomenológico-existencial!
:-0

Bju

sopro, vento, ventania disse...

E não é que "somos mesmo o que aprendemos e o que podemos vir a ser?"

E não é que "não ousar é perder-se?"

Tirando a chapeuzinho vermelho, que se perdeu na ousadia, no mais, é justamente o contrário.

Um beijo, querida,
Cynthia

Joaquim Maria Castanho disse...

Décimo Quarto Cálice

Só quando te quero sou
Sou quanto te quero só,
Que dizer é içar-me voo
Venho e vou de dar o nó.

Crescer como um laço
Ao beijar o colo de jade,
Cruzar o tempo e o espaço
Nas asas em V da verdade.

Receber-me quando dou
E dar-me apenas abraço,
Cedendo tudo o que sou
Nos teus olhos de melaço.

Mel das flores silvestres
Alfazema, rosmaninho
Violetas entre agrestes
Junções do azevinho.

Dizeres de fresco pão
No miolo enfarinhado,
Que cada dia é canção
Se à vista do bem cuidado.

Do bem que se não perde
E das flores iguais bens,
Que se à flor, que bem herde
Há-de ter o que só tu tens.

Rodrigo Cunha disse...

Seus textos são muito profundos. Parabéns! Dê uma passada no meu espaço e veja o que acha: www.devaneiosforadalei.com.br
Já estou te acompanhando por aqui. Grande abraço!

Marcantonio disse...

Sim, como uma rio que é nascente, curso e foz todo os dias.

Abraço.

Aninha disse...

Tão bonito seu blog...
Belas homenagens que faz aos grandes...

:)

Um bom fim de semana...

Aninha

 
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