9 de out. de 2011 16 Declarações de outras almas

Do haicai ôntico


o Homem
- esse ser que pensa,
esse ser que passa.


t. prates


Imagem: Le Penseur, de Rodin. Imagem original daqui, editada por mim.
6 de out. de 2011 9 Declarações de outras almas

Da ex-is-tên-cia-mo-sai-co

: porque eu preciso olhar no espelho e acreditar no que vejo. e ver o que ainda não sou para continuar aspirando a ser. se a imagem no espelho vira retrato, nada mais há o que esperar: o inferno é estático, gelidamente dantesco. só no céu, que é a possibilidade da mudança, há movimento. porque eu também sou aquilo que não sou. ser apenas o que sou é muito pouco. é sobrevivência. é aquém do além que ser exige.
vê: eu estou sendo. o gerúndio é a forma verbal da existência por excelência. eu minto a verdade do que sou apenas para experimentar novas formas de estar. é um fingir autêntico. finjo o que não sou para experimentar se, por ventura, posso ser. e a essa soma de estares, feita de tantas subtrações multiplicações e divisões, eu chamo existência. artesãos costumam chamar de mosaicos.

t. prates

Imagem daqui, modificada por mim.
2 de out. de 2011 9 Declarações de outras almas

Da crônica definitiva do primeiro-grande-último amor


Ouço o Notturno nº 2 de Chopin enquanto escrevo. Vem dele (que já foi meu-e-teu n'uma manhã, ao piano) a calma necessária para que eu pense os sentires e memórias e os coloque em palavra.
Das coisas que ainda restam a dizer, as repito por teimosia (tudo já foi dito e, ao mesmo tempo, nada. Tudo é muito pouco quando se trata de amor) - talvez para que a repetição me convença, em algum momento, que andar em círculos não faz com que a estrada curva se torne uma reta (acreditar no contrário é profissão de burrice, não de fé).
Das saudades que ainda transbordam a consciência que-procura-esquecer, as sinto como marca férrea e demarcante de algo que se prometeu intenso e inteiro - e foi, na medida atemporal do sentimento vivido. Só se tem saudade do que traz o sinal anímico e corporal do amor.
Das certezas que procuro para me convencer de que tudo que me era possível foi feito, acalenta-me aquela que me relembra que o afeto que eu te dediquei conteve em si toda a integridade, inteireza e inocência características d'um primeiro amor. Amei-te com toda a ingenuidade pueril que acredita que aquilo é pra sempre, sem-saber-que-o-pra-sempre-sempre-acaba.
Das aprendizagens que ficaram - pela dor -, aprendi que o amor não é única condição para se poder amar: tão imprescindível quanto, é dose imensa de ousadia e coragem, que devem ser tomadas dia após dia.
Das atitudes que tomei no depois, todas foram motivadas por uma espécie de instinto de autopreservação - minha bondade e meu amor pelo outro devem ter um limite: o de não ser cruel comigo mesma.

O meu amor eu conjugo no passado porque ele foi, de forma ativa, combatido. Não morreu morrido, mas matado. Era o que me restava, como efeito das tuas escolhas.
O ato heróico do meu amor foi, ainda que contrariado, respeitar a liberdade do teu escolher - essa foi a maior prova que ele, de si mesmo, pôde lhe dar.

Das expectativas que trago em relação ao porvir - que tudo se transforme, pelo tempo, em alicerce de vida, em palavra bem-dita, em memória indolor, em história da minh'alma.


t. prates
 
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